Com curadoria e palestras de Marco Aurélio Nogueira, professor de Ciência Poítica da pós-graduação da UNESP, câmpus de Araraquara, a política será problematizada. Todas as terças-feiras a partir das 19h, com entrada gratuita, inicia-se o segundo módulo do mês. Já participei de outro na CPFL que não o famoso Café Filosófico e gostei bastante do enfoque privilegiado pelas Ciências Sociais, já que nas sextas a Psicologia e a Filosofia parecem ter prioridade.
Política, para que te quero?
"Não é de hoje que a política incomoda. Desde sempre foi assim. Políticos e cidadãos vivem em tensão permanente e atrito, ainda que se complementem uns aos outros e não possam se dispensar reciprocamente. Muitos valores e procedimentos éticos seguidos pelos políticos não se coadunam com os comportamentos e as convicções das pessoas, que esperam dos políticos coisas que eles nem sempre podem fornecer. Hoje esse mal-estar se agudizou e converteu-se em horror, na exata proporção em que a política abrigada em nossas instituições representativas – a política praticada por nossos políticos – se mostra improdutiva, impotente para produzir soluções, enredada em escândalos e negociatas. Estamos hoje num momento em que se aposta na negatividade da política. Tudo que vem com “p” de política é mal visto pelas pessoas, que parecem duvidar da capacidade de partidos e governos, bem como da idoneidade e das intenções dos políticos.
A crise da política é uma das dimensões mais típicas da época atual, refletindo um processo geral, que desorganiza a maneira como concebemos as formas de convivência e conflito. A idéia mesma de política está em crise: não sabemos bem o que significa e tendemos a vê-la como expressão daquilo que não é desejado, território de profissionais, leões e raposas, vetado aos cidadãos comuns. Está em crise também o modo de fazer política, os mecanismos, os procedimentos e as instituições que a política inventou para realizar suas atribuições e dar vazão à sua dinâmica. Para complicar, entraram em crise os sujeitos políticos, aqueles que fazem política. O cenário sugere uma obra de demolição, como se uma etapa tivesse ficado para trás e o que dela sobrou funcionasse somente de modo cosmético, por inércia, sem conseguir aderir aos novos termos da vida.
Ainda que devamos continuar a dizer que a condição política é a condição humana por excelência, estamos obrigados a reconhecer que ela, hoje, não está conseguindo se impor. As sociedades parecem sem eixo, embora estejam sempre mais conectadas. O universo político está deixando a desejar: rende pouco, custa caro, produz mais insatisfação, pasmo e aborrecimento do que entusiasmo ou resultados efetivos. A política, porém, não desapareceu, nem perdeu valor e utilidade. A vida social continua a ser inconcebível sem ela. As coisas não melhorariam se acaso desaparecessem os políticos, suas instituições e suas rotinas. Na verdade, o nosso é um problema bem preciso, e por isso mesmo difícil de ser solucionado: é que não estamos sabendo retirar positividade e explorar os elementos virtuosos que emergem daquilo que se desagrega e se desorganiza".
"Não é de hoje que a política incomoda. Desde sempre foi assim. Políticos e cidadãos vivem em tensão permanente e atrito, ainda que se complementem uns aos outros e não possam se dispensar reciprocamente. Muitos valores e procedimentos éticos seguidos pelos políticos não se coadunam com os comportamentos e as convicções das pessoas, que esperam dos políticos coisas que eles nem sempre podem fornecer. Hoje esse mal-estar se agudizou e converteu-se em horror, na exata proporção em que a política abrigada em nossas instituições representativas – a política praticada por nossos políticos – se mostra improdutiva, impotente para produzir soluções, enredada em escândalos e negociatas. Estamos hoje num momento em que se aposta na negatividade da política. Tudo que vem com “p” de política é mal visto pelas pessoas, que parecem duvidar da capacidade de partidos e governos, bem como da idoneidade e das intenções dos políticos.
A crise da política é uma das dimensões mais típicas da época atual, refletindo um processo geral, que desorganiza a maneira como concebemos as formas de convivência e conflito. A idéia mesma de política está em crise: não sabemos bem o que significa e tendemos a vê-la como expressão daquilo que não é desejado, território de profissionais, leões e raposas, vetado aos cidadãos comuns. Está em crise também o modo de fazer política, os mecanismos, os procedimentos e as instituições que a política inventou para realizar suas atribuições e dar vazão à sua dinâmica. Para complicar, entraram em crise os sujeitos políticos, aqueles que fazem política. O cenário sugere uma obra de demolição, como se uma etapa tivesse ficado para trás e o que dela sobrou funcionasse somente de modo cosmético, por inércia, sem conseguir aderir aos novos termos da vida.
Ainda que devamos continuar a dizer que a condição política é a condição humana por excelência, estamos obrigados a reconhecer que ela, hoje, não está conseguindo se impor. As sociedades parecem sem eixo, embora estejam sempre mais conectadas. O universo político está deixando a desejar: rende pouco, custa caro, produz mais insatisfação, pasmo e aborrecimento do que entusiasmo ou resultados efetivos. A política, porém, não desapareceu, nem perdeu valor e utilidade. A vida social continua a ser inconcebível sem ela. As coisas não melhorariam se acaso desaparecessem os políticos, suas instituições e suas rotinas. Na verdade, o nosso é um problema bem preciso, e por isso mesmo difícil de ser solucionado: é que não estamos sabendo retirar positividade e explorar os elementos virtuosos que emergem daquilo que se desagrega e se desorganiza".
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